segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A nossa história começa a ser escrita quando ainda habitamos o útero. A escolha do nome, os preparativos, os sentimentos que provocamos naqueles que nos esperam... enfim, nascemos e a história segue seu curso.

As primeiras vivências das crianças são registradas pelos adultos em sua volta. No livro não é escrito somente o que acontece com a criança, mas o que acontece em seu ambiente. Nele é colocado como os adultos se comportam, como eles cuidam da criança, como resolvem suas próprias questões, como é o humor deles, como olham para criança, como lidam com as dificuldades, como se comportam em relação a vida e ao outro... tudo isso está anotado e faz parte da construção do lastro emocional da criança.

Quando maiores, mais independentes, pegamos nosso livro e arriscamos registrar algumas coisas. Durante vários anos de nossas vidas diversas pessoas irão interferir na nossa história. Algumas vão escrever coisas maravilhosas, outras vão borrar determinadas páginas, há também os incríveis protagonistas que colocarão os pontos mais marcantes, os que desempenharão o papel de vilão, sem falar nos inesquecíveis amigos e nos familiares e professores fantásticos presentes nos melhores capítulos, ainda existem os que rabiscaram coisas quase insignificantes...

E num determinado momento de nossas vidas, quando nos sentimos capazes de escrever nossa própria história, pegamos nosso livro com tantas páginas já escritas e tomamos posse dele. Nesse momento indiscritível, pegamos não somente o lápis, mas também a borracha e fazemos as edições possíveis.

 O livro é sobre a nossa história, mas a introdução e os primeiros capítulos não estão nas nossas mãos. Quando somos independentes, precisamos nos tornar lúcidos e prestar mais atenção as linhas que estamos escrevendo, porque os dias passam rápido demais e nem sempre dá tempo de fazer rascunho.

 Pensando nisso, como você está escrevendo a sua história? O que você realmente quer colocar no seu livro? Como é a sua biografia? Você tem finalizado bem os seus capítulos? Você tem usado borracha? Precisa mudar algo? Essas mudanças são viáveis? Qual a sua disponibilidade para mudar? Está cuidando bem do seu livro? Está agindo com generosidade com você e os demais personagens ao revisar sua história? Você faz um rascunho, se organiza antes de registrar?

 Tantas questões, mas esqueci de perguntar uma coisa de extrema importância: quem é o autor da sua história?

Se não olharmos com amor para nosso livro e apertá-lo contra nosso peito e dissermos para nós mesmos: esse é o registro da minha vida, mesmo que eu não goste de tudo que está aqui tudo é verdadeiro, apesar de não aceitar algumas palavras, de evitar algumas imagens, estou aqui, portanto, sou capaz de promover mudanças. Posso tentar tornar as coisas melhores, ou não posso? Posso acreditar na minha vontade de viver dias melhores e aprender a lidar com as coisas que não são legais da minha vida e seguir em busca dos caminhos que me levam aos lugares que eu escolho.

 No nosso livro, ainda há coisas que não são escritas por nós mesmos, quando já nos tornamos autor. São letras escritas pelo destino, ou coisa assim. Mesmo que não tenha como mudar essas palavras, somos capazes de reeditá-las.

O mais importante é tentarmos deixar de lado os lamentos, as queixas e dar espaço ao perdão e a esperança.

 Que você continue escrevendo sua bela história e não esqueça de destacar com marca texto, as pequenas conquistas, os sorrisos das crianças, os dias em que não ficou doente, os encontros com os amigos, as simples lições... enfim olhe para o seu livro com muito amor, mesmo que esteja amarelado e com algumas páginas amassadas, restaure-o.

Que o seu livro tenha capítulos com finais satisfatórios. E se um capítulo não terminar muito bem que no capítulo seguinte você consiga fazer novos ajustes.

 

                                                                                            Jemima Morais Veras